Propósito com lucro
No Brasil, o Sistema B tem 160 empresas certificadas e 4,4 mil em processo de certificação. “É o maior número no mundo", diz Marcel Fukayama, cofundador e diretor-executivo do Sistema B no país. Só neste ano, 180 novos negócios devem ser certificados. O número só não é maior porque o processo é trabalhoso e há um gargalo para atender a toda a demanda de uma vez. Até agora, a maior parte das associadas ao sistema eram empresas pequenas, de até US$ 10 milhões de faturamento, e a Natura sempre se destacou por ser a única grande companhia local a figurar na lista, que inclui também a subsidiária da americana Laureate, de educação, a segunda maior B Corp do mundo, e a Mãe Terra, comprada pela Unilever.
“Agora o que nos entusiasma é a possibilidade de escalar o nosso alcance. A maior demanda que temos recebido é de empresas com faturamento acima de US$ 1 bilhão e até acima de US$ 5 bilhões", diz Fukayama. Segundo o executivo, a B3 incluiu em seu último questionário para seleção de empresas que integram o índice de sustentabilidade ISE algumas perguntas sobre a adoção de cláusulas do Sistema B e isso ajudou a impulsionar a demanda.
Pelo menos duas companhias de capital aberto estão em processo de certificação. A varejista Magazine Luiza e a locadora de veículos Movida, do grupo JSL, já aprovaram em assembleia de acionistas a alteração de seus estatutos sociais justamente para formalizar o compromisso de gerar benefícios para a sociedade e não apenas para seus acionistas, uma das exigências para a certificação como B Corp.
“Estou convicto de que o Magalu só sobreviverá por mais 63 anos se, como empresa, desempenhar um papel importante em prol da sociedade e do meio ambiente. Não é o valor da ação por si só que nos move. Ou rentabilidade. Ou participação de mercado. Não questiono a ideia de que o capitalismo continua a ser a mais eficiente invenção humana para gerar riqueza, mas negócios – e o Magazine é um deles – devem ser guiados por um propósito maior que o de simplesmente maximizar lucro para o acionista", diz Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza. “A busca pela certificação B está em sintonia com essa lógica: nos preocupamos em gerar benefícios para todos os stakeholders, e decidimos que queremos ter certeza de que os nossos esforços para isso estão na direção correta." Embora esteja em curso, a certificação da empresa ainda deve levar um tempo.
Na Movida, a proposta de obter o selo de Empresa B foi levada por Fernando Simões Filho, herdeiro do grupo, integrante do conselho de administração e membro dos comitês de sustentabilidade das empresas do grupo JSL. Ele conta que a ideia foi prontamente abraçada pelo CEO da companhia, Renato Franklin, e que o processo está bastante avançado.
Simões Filho, de 32 anos, neto do fundador do grupo e filho de Fernando Simões, CEO da JSL, é um típico exemplo da mudança cultural e geracional em curso. Depois de trabalhar por dez anos nas empresas da família, em 2013 resolveu se afastar para estudar nos Estados Unidos e não voltou mais. “Desde a época da escola eu sentia um incômodo por perceber que recebia um tratamento diferenciado por ter uma condição financeira privilegiada", conta. “Resolvi transformar esse incômodo para tentar resolver problemas sociais, usando o acesso que tive à educação e os relacionamentos que construí", completa.
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